Meu ídolo Juca escreve num jornal que não respeita o leitor.
Eu admiro muito o jornalista Juca Kfouri, o único que sempre combateu a corrupção no nosso futebol. Pouca gente sabe que ele começou esse seu trabalho corajoso há quase 40 anos, quando era editor da revista Placar e denunciou a máfia da Loteria Esportiva.
O extraordinário Juca também escreve sobre outros assuntos, como aconteceu recentemente no seu comentário na Folha de S. Paulo sobre o início da Paraolimpíada. Ele criticou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que estariam competindo para ver quem destrói primeiro a democracia brasileira. Segundo o colunista, foram absurdas as agressões no Largo da Batata, onde ele mesmo viu os policiais batendo covardemente nos manifestantes como se quisessem produzir mais atletas para as futuras paraolimpíadas.
Da mesma forma que eu admiro as posições do Juca, constatei que o jornal onde ele escreve (e onde eu trabalhei nos anos 70) passa por um momento ruim da sua história. Tudo bem que o jornalismo impresso vive pressionado por uma internet avassaladora, mas a Folha anda esquecendo um dos princípios básicos do Jornalismo: o da informação.
Na edição de terça-feira, no espaço reservado ao Esporte, o jornal dedicou uma página para o futebol internacional, meia página para a volta do cavaleiro Rodrigo Pessoa e uma página e meia para a Paraolimpíada. Campeonato Brasileiro? Nada. Nenhuma linha sobre os times paulistas e sobre a contusão do Gabriel Jesus. Nem a vitória do Fluminense sobre o Atlético Mineiro a Folha informou, lembrando que o jogo terminou antes das 10 e o jornal fechou a sua edição à 1h03 da madrugada.
Eu só não cancelo a assinatura porque adoro ler a coluna do Juca.
Comportas de esgoto abertas. Que se dane a Paraolimpíada.
Deixei passar alguns dias até diminuir o bombardeio de elogios feitos pelos governantes, pelo COB e pela TV Globo, que se tornou espécie de assessora de imprensa de quem falasse bem da Olimpíada.
Claro que a emissora precisava valorizar o seu produto, que rendeu um dinheirão para a TV aberta e para tantos canais por assinatura, mas ficar batendo na tecla de que a Olimpíada foi um sucesso pegou mal. A Globo deveria informar nos seus telejornais o que realmente foi gasto. Atenas escondeu suas despesas em 2004 e depois faliu.
Até surgirem os gastos reais, sabe-se que o Brasil investiu perto de R$ 42 bilhões, incluindo a Paraolimpíada que Globo, Veja e tantos sites continuam desafiando a língua portuguesa ao chamarem de Paralimpíada. É muito dinheiro para sujar ainda mais no Exterior a imagem do nosso país que, no Maracanã, provou ser mesmo bom de festa. De carnaval a gente entende.
Dizer que foi um grande sucesso na parte técnica por ter apresentado Phelps, Bolt e Simone Biles também é uma bobagem. Eles estariam em Assunção se a olimpíada tivesse sido realizada lá.
Durante o nosso mega-evento a Veja imitou a Globo ao colocar na capa o Cristo Redentor com a medalha no peito e ao publicar que a zika preferiu Miami, como se a doença tivesse desaparecido daqui.
Há poucos dias, pouco antes do início da Paraolimpíada, fiquei sabendo que os mesmos governantes que tanto elogiaram o Rio na TV Globo são aqueles que fecharam as comportas antes da abertura e que mandaram soltar o esgoto durante a festa de encerramento.
Que merda.
O arrogante Lucas Lima foi expulso. Bem feito.
O presidente Modesto Roma estrebuchou, a torcida santista ficou inconformada, mas a verdade é que o culpado pela expulsão no Beira Rio foi o próprio Lucas Lima, especialista em provocações e ironias.
Pra quem não ficou sabendo, no primeiro tempo o jogador recebeu cartão amarelo por retardar a cobrança de falta, numa nítida provocação ao Inter desesperado para sair da zona do rebaixamento.
No finzinho do primeiro tempo, Lucas Lima – sempre ele – desistiu de cobrar um escanteio e o árbitro Rodrigo Batista Raposo interpretou como nova cera. Deu outro amarelo e puxou o vermelho.
Com 10, o time santista jogou acuado até o segundo gol do Inter, resultado que fez o Modesto Roma chamar o árbitro de mal intencionado e exigir a demissão do presidente da Comissão de Arbitragem.
O técnico Dorival Júnior declarou que nunca viu coisa parecida, o meia Renato justificou a atitude com uma história de jogada ensaiada e o Batista, tricampeão brasileiro pelo Inter, hoje comentarista da SporTV, resumiu tudo numa única frase: “Eu também nunca tinha visto, mas a verdade é que o juiz colocou ordem no jogo”.
Enfim, o árbitro pode até ter exagerado, mas a confusão aconteceu porque todo mundo sempre fica com um pé atrás quando o episódio envolve Lucas Lima. Ele é debochado e nunca pensa nas consequências. Além de não jogar domingo contra o Corinthians, o meia santista fez o seu time ficar a 4 pontos do G4 e 10 pontos atrás do Palmeiras que ele tanto debochou nas redes sociais com gracinhas que poderiam ter gerado graves consequências entre os torcedores.
Podem me xingar à vontade. Estão endeusando demais o Tite.
Muita gente vai dizer que eu estou querendo aparecer. Paciência. Eu preciso escrever: estão exagerando nos elogios. O Tite foi bem nos seus dois primeiros jogos e a seleção melhorou bastante, mas eu quero ver como se comportarão os “parças” do nosso técnico quando o Brasil tiver de jogar sem o Neymar.
Os 3 a 0 sobre o fraco Equador foi um resultado absolutamente normal, sempre aconteceu, mesmo jogando fora, e a vitória em cima dos colombianos era esperada porque o Brasil nunca perdeu para a Colômbia jogando em casa.
O leitor pode alegar que nesses dois primeiros jogos do Tite a pressão era muito grande com o Brasil fora da zona de classificação. Até acredito. Mas não foi maior do que em 1969, quando o time do Saldanha precisava empatar com o Paraguai para garantir vaga na Copa de 70. Pelé marcou aos 32 minutos do segundo tempo num Maracanã superlotado com 183.341 pagantes, recorde de público no mundo (em 1950, contra o Uruguai, foram 173.850 pagantes).
Não acredito também que a pressão tenha sido maior do que em 1993, quando o Brasil precisava do empate contra o Uruguai para garantir presença na Copa dos Estados Unidos. Depois de um episódio parecido ao do Dunga com Marcelo, o técnico Parreira foi obrigado a convocar o Romário, que marcou os dois gols da vitória. Só que o primeiro gol do Baixinho só aconteceu aos 28 minutos do segundo tempo. Um sufoco no Maracanã com 110 mil pessoas.
Daqui um mês, o Brasil ganhará da Bolívia em Natal e a classificação ficará mais próxima, mas isso não quer dizer que a nossa seleção esteja tão bem e que suportará situações complicadas contra times mais fortes. É só lembrar que, em Manaus, nós jogamos com dois titulares do Barça e dois titulares do Real, enquanto a Colômbia entrou em campo com um craque: James Rodrigues, reserva no Real.
O público da grande pressão em Manaus? Menos de 40 mil pessoas.
A incompetência da Imprensa num país onde as leis não pegam.
É impressionante o que aconteceu com os nossos comentaristas políticos no episódio do impeachment. Um batalhão de especialistas ficou horas e horas na TV tentando explicar o que estava acontecendo e nenhum deles desconfiou que o destaque foi discutido alguns dias antes.
Esse episódio foi parecido ao do confisco em que a ministra Zélia Cardoso de Mello bloqueou todo o nosso dinheiro. Lembro bem do chilique que a comentarista econômica Lillian Witte Fibe teve no JN ao ser surpreendida pelo anúncio do Plano Collor.
Os episódios têm características parecidas porque os dois envolveram figurões da política brasileira e, nos dois, os especialistas comeram bola. Em 1990, a medida surgiu de um consenso entre o presidente Fernando Collor, o Ulysses Guimarães e o Lula. Desta vez, Renan Calheiros, Ricardo Lewandowski – e não se sabe mais quem – esboçaram o destaque dias antes.
Além de os especialistas nunca desconfiarem de nada, o que também me assusta é como a imprensa brasileira compactua com as leis que não pegam. Entre tantos exemplos, não pegaram as leis dos estojos de primeiros socorros, do insulfilme e do extintor de incêndio. Agora, a Justiça suspendeu a obrigatoriedade de acender os faróis do carro durante o dia e, para os jornalistas, isso parece muito normal.
Enfim, aqui no Brasil é assim: quando o povo não quer a lei não pega e a nossa imprensa ignora tudo. Mas dá pra entender. Nós vivemos num país onde nem a Constituição pegou.
Havelange morreu, mas não deixou de ser corrupto.
Quando eu era repórter esportivo entrevistei vários dirigentes do futebol brasileiro e, na época, achava o José Ferreira Pinto e o Nabi Abi Chedid bem espertos. Aprendi agora que os dois eram amadores perto dos bandidos que vieram depois. Seria como se a gente comparasse, na política, o Paulo Maluf com o José Dirceu.
Mais tarde, quando fui presidente da Associação dos Cronistas Esportivos, tive uma reunião turbulenta com o Ricardo Teixeira, o todo poderoso da CBF. A sua prepotência foi assustadora quando o assunto passou a ser o seu sogro, o João Havelange considerado o precursor da corrupção na FIFA e que, antes de morrer, só não foi preso por estar chegando ao seu centenário.
Ainda na época da Aceesp, foram desastrosos os meus dois encontros com o presidente da Federação Paulista, o José Eduardo Farah que, mesmo antes da sua morte, já tinha se tornado aprendiz de bruxo perto do seu assessor Marco Polo Del Nero, atual presidente da CBF.
Já que o assunto é corrupção moderna, eu convivi com o J. Hawilla quando ele precisava dividir o almoço num restaurante simples perto da Rádio Globo. O radialista que se transformou num empresário poderoso foi se misturando com os bandidos e acabou se tornando um deles. Foi pego em Miami pela Justiça americana um pouco antes da prisão do José Maria Marin, ex-presidente da CBF.
Mesmo sabendo que a CBF é uma entidade privada, eu não consigo entender como os dirigentes corruptos conseguem se perpetuar em seus cargos. Foi difícil conseguir o afastamento do Ricardo Teixeira e agora não existe CPI capaz de afastar o Del Nero que não viaja com a Seleção com medo de ser preso pelo FBI.
O Periquito foi campeão do mundo. O Porco ainda não.
Há poucos dias, o comentarista Casagrande disse numa transmissão da Globo que o Palmeiras é sim campeão do mundo. Essa declaração reacendeu a velha discussão sobre esse título. Os corintianos são os que menos aceitam a conquista.
Isso me fez lembrar duas coisas: que na época do mundial o símbolo do Palmeiras era o Periquito e que, na década de 70, eu acabei participando meio sem querer da história de o torcedor do Palmeiras ser chamado de Porco.
No finzinho dos anos 60, às vezes os palmeirenses eram chamados de sujos, de porcos, por causa de uma briga entre as diretorias. Mas foi em 1976 que a provocação ganhou proporções na semana de um clássico entre os dois maiores rivais.
Mesmo sendo palmeirense, eu fui um dos fundadores da editora que publicava o jornal Coração, dirigido à torcida corintiana. Na véspera do clássico, o redator chefe e corintiano fanático Eloi Gertel colocou na capa do jornal um porquinho vestindo a camisa do Palmeiras.
O alvoroço foi geral. A torcida palmeirense quebrou os vidros da sede da editora, meu pai ficou indignado comigo e eu, na época repórter esportivo, fui proibido de entrar no clube durante um bom tempo.
Por alguns anos os palmeirenses sentiram vergonha de serem chamados de porcos, até que no final da década de 80 o diretor de marketing do clube, João Roberto Gobatto, lançou a ideia de assumir o Porco como mascote.
A partir daí – e depois dos títulos conquistados pelo time da Parmalat – a torcida assumiu definitivamente o Porco e até o meu pai, Periquito convicto, se acostumou com o novo grito de guerra. Pena ele ter morrido em 2014 sem ver a torcida entoando “Poooorco” na linda arena palmeirense.
Sempre quello
Minha avó dizia sempre quello quando o meu avô fazia as coisas sempre do mesmo jeito. A expressão se encaixa perfeitamente na situação do Celso Russomanno, candidato à prefeitura de São Paulo.
Pesquisa recente do Datafolha mostrou que, se a eleição fosse hoje, o deputado do PRB teria 31% dos votos, quase o dobro da ex-prefeita, ex-ministra e ex-uma porção de outras coisas Marta Suplicy.
Há quatro anos, Russomanno também liderava as pesquisas com folga e, no fim da campanha, perdeu para o Fernando Haddad do PT, o partido que reinava. Agora, o candidato ligado à Igreja Universal vai enfrentar a Marta apoiada pelo PMDB que está no poder.
Sempre quello.
O Haddad? Está em quarto lugar. Foi prepotente, não cuidou da Saúde, deixou os bandidos tomarem conta de São Paulo, encheu a cidade de ciclovias inúteis e está com 49% de rejeição. Bem feito, não vai se reeleger.
Na pesquisa, o Haddad ficou atrás até da octogenária Luiza Erundina, prefeita de São Paulo no final dos anos 80, a velhinha que está na disputa apenas para que o seu PSOL faça alianças no segundo turno.
O milionário João Dória do sempre indeciso PSDB tem apenas 5% das intenções de voto e vai ter de comer muito pastel no centro da cidade para mostrar que é um homem do povo.
Com tantos outros Fidelix concorrendo, fica evidente que essa história de fazer aliança deve render bons cargos e muito dinheiro.
Sempre quello.
Um Marco incomoda muita gente. Dois incomodam muito mais.
A situação do nosso futebol feminino precisa ser resolvida com urgência, caso contrário, se a renovação não acontecer, o Brasil fará um papelão nos próximos torneios internacionais e, principalmente, na Olimpíada do Japão.
Quem viu os jogos do último torneio olímpico percebeu que o time brasileiro foi o de sempre, liderado pela fantástica Marta meio desanimada e pela velha Formiga que disputou sua sexta olimpíada. As outras jogadoras foram as mesmas de mundiais e pan-americanos passados.
Pouca gente sabe que nós temos times de futebol feminino nos 26 Estados do país. São poucos e pobres, mas existem. Nos centros maiores, o número de equipes é um pouco mais expressivo: em São Paulo são 14 e no Rio 12. É impossível que não apareçam revelações nos campeonatos regionais, na Copa do Brasil e na Libertadores de Futebol Feminino.
Não estou cobrando a descoberta de uma nova Marta, fenômeno que começou no juvenil do CSA, em Alagoas, e depois foi cinco vezes a maior do mundo. Mas no Brasil inteiro devem existir jogadoras com alguma qualidade ou com um chute um pouco mais forte. Acho que o comando do nosso futebol feminino anda dormindo no ponto.
A gente não podia esperar coisa melhor do Marco Aurélio Cunha, que em 2015 deixou de ser vereador em São Paulo para assumir o cargo de supervisor do futebol feminino. O médico ortopedista, que não deu certo como gerente de futebol do Coritiba, Santos, Figueirense, Avaí e São Paulo, é um dos protegidos na CBF por um outro Marco, o Del Nero.
Preciso escrever mais alguma coisa?
Vai Tite! Ganhe do Equador. Pelo amor de Deus.
O time do Tite não será muito diferente do time do Dunga, a não ser pela presença do lateral Marcelo, o campeão do Champions League que, inexplicavelmente, ficou fora da Copa das Confederações.
Não ter convocado Elias, Luiz Gustavo, Ricardo Oliveira e Hulk foi um grande passo para a classificação nas Eliminatórias, mas eu não gostei dos convocados que o Tite chamou de “parças” por terem sido seus jogadores no Corinthians e no Internacional.
Não acho certo chamar Taison e Giuliano só porque o técnico trabalhou com eles. Sei que o fator confiança pesa muito, mas eu não gosto dessa relação de amizade. E mais: a volta do Paulinho foi um retrocesso.
Mesmo sendo times bem parecidos, é evidente que a seleção do Tite será melhor e com chance sim de se classificar. A favor do técnico também existe agora a volta do otimismo depois da medalha de ouro na Olimpíada do Rio.
A preocupação é sempre a mesma: saber que o Marco Polo Del Nero continua no pedaço. A medalha de ouro acabou dando uma sobrevida ao presidente da CBF, mas ele insiste na lenga-lenga de não viajar com a Seleção com medo de ser preso pelo FBI. Isso é muito triste.
Torço por duas vitórias contra Equador e Colômbia. Dois resultados ruins seriam desastrosos não só para a classificação, mas para a permanência do técnico. Não me sai da cabeça aquele beijo que o Del Nero deu no Tite no dia da apresentação. Lembrei do Judas.