Tapete Verde
O Divino era divino
Eu vi uns 300 dos 901 jogos do Ademir da Guia. Nunca vi o Ademir revidando uma entrada mais dura ou reclamando do juiz a marcação de uma falta. Vou mais longe: não lembro de ter visto o Divino no chão.
Contra os adversários violentos, o fim da jogada era previsível: ele na frente com a bola, elegante, e o agressor vencido, humilhado. Por isso, dentro de campo, todos tinham medo de enfrentar o Divino.
Quando o Ademir amortecia a bola no peito, o adversário tentava marcá-lo por um lado e o gênio escapava pelo outro, sozinho, com passos largos e uma lentidão que enganava todo mundo. Nem os adversários – e nem o próprio Divino – sabiam que ele girava o corpo no sentido anti-horário, o que, para os destros, era um movimento assustadoramente diferente.
Com 153 gols, o Divino foi o terceiro artilheiro da história do Palmeiras. Eu vi uns 50. Nenhum foi de bicicleta e nem deixou para trás um rastro de adversários. Quase todos os gols do Ademir eram simples, como era simples e objetivo o seu futebol.
Por que ele não foi titular da Seleção Brasileira? Eu me atrevo a dizer que nem ele queria. O Divino era tímido, introvertido, humilde. Ele sempre dizia – sou testemunha disso – que o time do Brasil estava bem servido com Gérson e Rivelino.