O português chato é bom até nas derrotas

Convivi bastante com Brandão e Telê, dois técnicos do Palmeiras na minha época de Jornal da Tarde. Traçando comparações, posso afirmar que o Abel Ferreira está no mesmo nível. Segundo jornalistas mais novos do que eu que trabalharam com Felipão e Luxemburgo, o português não fica devendo nada a eles.
Fora do campo, Abel é uma moça, educado, trata todo mundo bem. Durante os jogos, enlouquece, fica nervosinho, briguento, um chato. Também exagera nas coletivas ao desafiar a Imprensa, como o Muricy sempre fazia no São Paulo.
Mesmo assim eu gosto do Abel. Ele é competente, inteligente, paizão para os jogadores, como Brandão e Felipão, perfeccionista, como Telê, e estrategista, como o Luxemburgo dos bons tempos.
O Abel tem uma virtude que Brandão, Telê e Felipão não tiveram ou não puderam ter. Ele aposta alto nos meninos da base, filosofia que o Luxemburgo usou recentemente ao lançar garotos no Palmeiras, Vasco e Corinthhians.
Na coletiva, depois do jogo com o Boca, os repórteres especularam quem teria sido o responsável pela eliminação do Palmeiras. Abel, bravo, disse: “Fui eu o responsável. Eu e o goleiro deles. É isso que vocês querem?”
Sobre uma possível demora nas substituições, o Abel se irritou, deu boas patadas, e eu sei o motivo. Que técnico teria peito de colocar Endrick, Kevin, Fabinho e Luís Guilherme num jogo desse. Depois de ver que o time melhorou com eles, é facil afirmar que os garotos deveriam ter entrado antes.
Nesse aspecto, o de lançar jovens, o Abel é inigualável. Talvez o Rogério Ceni tenha feito um pouco disso antes de o Dorival Júnior colher os frutos no Morumbi.