Cena típica de futebol varzeano

Quando eu joguei na várzea – há mais de 60 anos – existia uma dezena de campos de terra só na região do Alto da Mooca. Ainda muito novo, fui um meia-direita apenas razoável no segundo quadro (como se dizia na época) do Paulista da Vila Bertioga.
Nosso time era bem pobrinho. Tinha dois jogos de camisas surradas, duas bolas e meia dúzia de troféus pendurados no armazém do Betão, zagueiro-central do time principal. A gente se trocava na casa do técnico Spaca e íamos para os jogos no caminhão do lateral-direito Paçoca.
O pau comia dentro e fora de campo, mas nós – inconsequentes – não tínhamos medo de nada. Uma vez, saímos correndo a pé na Vila Formosa, onde o temido Caveira de Prata ameaçou o juiz com um enorme 38.
O VAR não existia. Nem os cartões amarelo e vermelho. As dúvidas eram resolvidas em debates acalorados entre o juiz, os capitães e dois ou três que falavam mais alto. A decisão nem sempre agradava e, muitas vezes, as partidas eram encerradas antes da hora.
Por tudo isso eu achei normal o técnico Abel e o argentino Calleri se estranharem no Morumbi. Lembrei do nosso futebol varzeano que, infelizmente, não existe mais.
Que saudade.