Fatalidade? Não, foi crime mesmo.

Existem dois tipos de homicídio. O doloso, quando se mata com intenção de matar, o que não é caso do comandante da LaMia que também morreu no acidente, e o culposo, quando não existe o propósito de matar e as mortes são causadas por negligência, imprudência ou imperícia. No voo do time da Chapecoense aconteceu o homicídio culposo, ou seja, com negligência e imprudência.
Piloto e companhia foram negligentes por saberem que a autonomia do avião era de quase 3 mil quilômetros, a exata distância entre Santa Cruz de La Sierra e Medellin, sem nenhuma folga, além do fato dessa viagem nunca ter sido feita sem reabastecimento.
Seria a mesma coisa se me contratassem para guiar 450 quilômetros de carro e eu, sabendo que essa era a minha autonomia, tentasse levar os passageiros até o final da viagem sem parar num posto de gasolina. A diferença é que, no caso de uma pane seca, nós desceríamos no acostamento até o problema ser resolvido.
A notícia de que a agência aérea boliviana (a ANAC deles) alertou sobre o tempo de voo apertado e o perigo de ficar sem combustível é a prova da imprudência, já que o piloto, um dos sócios da LaMia e, portanto, um dos interessados no voo, retrucou dizendo que já havia feito essa viagem várias vezes num tempo menor.
É impossível que uma companhia aérea venezuelana sediada na Bolívia, com apenas um avião operando, possa ter transportado algumas seleções, entre elas a da Argentina, e outras 30 equipes sul-americanas que só não foram dizimadas porque, no final das suas viagens, nenhum outro avião pediu urgência para aterrissar.