Família palestrina

Muita gente pergunta qual é o significado do meu sobrenome. Eu sempre conto que os meus antepassados são da cidade de Lavello, província de Potenza, sul da Itália, e que aqui no Brasil, quando o meu pai foi registrado, o maledetto do escrivão escreveu Scatamacchia com um c só.
Para que todos entendam melhor eu explico que na época dos meus antepassados, no século 19, as pessoas não tinham sobrenome. Isso era privilégio dos nobres, coisa de gente rica. Quem chegava nos lugarejos e perguntava por um Antonio ouvia respostas do tipo “O Antonio tintureiro? Mora alí”.

E o que tem a ver tintureiro com Scatamacchia? Demorei um bom tempo para descobrir que em italiano scata quer dizer tira e que macchia significa mancha, ou seja, o Antonio, pai do meu tataravô, era um tira-mancha.
O meu avô Antonio chegou da Itália em 1895 como aprendiz de sapateiro e logo abriu a sua sapataria na Avenida São João. Mais tarde, na Bela Vista, em 1914, quando o Palestra Itália tinha 10 anos, ele fundou a Calçados Scatamacchia.
Foi num sobrado na frente da fábrica de sapatos que o ponta-direita Ministrinho, o primeiro jogador brasileiro a ser vendido para o Exterior, jogava pingue-pongue com o meu pai e comia a macarronada da minha avó Assumpta horas antes de defender o Palestra no recém-inaugurado Pacaembu.
A família Scatamacchia já era palestrina desde a fundação do clube, mas a convivência com o Ministrinho fez com que todos se apaixonassem ainda mais pelo Palestra Itália e pelo meu Palmeiras. Um amor antigo.